terça-feira, 25 de outubro de 2011

Bancos: Perdoar metade da dívida da Grécia arrisca ser considerado "incumprimento"

Perdoar metade ou até mais da dívida grega dificilmente não será considerado "incumprimento", sobretudo se esse perdão for imposto e não negociado, avisa o representante da banca credora da Grécia. 

Charles Dallara, director do Instituto Financeiro Internacional e interlocutor da banca nas negociações que estão em curso com vista à redução da dívida grega, avisou ontem à noite que há limites "para o que pode ser considerado voluntário".

Reagindo à proposta dos governos europeus, que no seguimento da pressão da Alemanha querem que as instituições financeiras privadas aceitem renunciar a 60% dos créditos concedidos à Grécia, Dallara alertou para o método de negociação e para os limites que podem ser aceites pela banca sem desencadear um evento de crédito.

"Qualquer abordagem que não assente em discussões num espírito de colaboração e que envolva iniciativas unilaterais equivalerá a um incumprimento", alertou, citado pela agência Bloomberg.

Nos cálculos dos financiadores internacionais da Grécia – União Europeia e Fundo Monetário Internacional – na ausência de um perdão considerável, a espiral da dívida pública continuará a agravar-se até ao equivalente a 186% do PIB em 2013, baixando para 130% apenas em 2030.

Os parceiros do euro, em especial da Alemanha, têm condicionado a segunda ajuda à Grécia (mais 109 mil milhões de euros) a um envolvimento considerável dos privados. Esse envolvimento começou por ser calculado, em Julho, em 21%. Os bancos perderiam assim um quinto do valor emprestado ao país para garantir condições para que a Grecia possa pagar o restante, evitando um incumprimento total.

Ou os bancos perdem mais, ou Estados terão de abrir mais os cordões à bolsa
A acelerada degradação das condições financeiras gregas tornou, entretanto, estes números obsoletos: ou a ajuda “oficial” é aumentada, ou as perdas dos privados têm de ser alargadas. Berlim quer cortes de 60% assumidos pelos bancos (e respectivos accionistas) para não mexer no valor do novo pacote da ajuda dos Estados em que, no fim da linha, estão os contribuintes – em particular os alemães, dado que é a Alemanha a maior accionista do fundo europeu que ficará encarregue de financiar o essencial do empréstimo à Grécia.

Os Governos querem no entanto evitar que a renegociação da dívida grega seja interpretada como uma imposição, desejando que ela seja considerada como um gesto "voluntário" da banca, para evitar que as agências de "rating" declarem tratar-se de um incumprimento (default) grave.

Esse cenário pode gerar consequências ainda mais dramáticas para o país e abrir um precedente perigoso para Portugal e Irlanda, que poderão ser encarados como os próximos a entrar em "default" e ver os respectivos "ratings" ainda mais esmagados, deixando a banca sem activos com o mínimo de "qualidade" para serem trocados por liquidez no Banco Central Europeu (BCE).

Um incumprimento grego promete também produzir impactos relevantes na banca norte-americana, que vendeu o essencial dos "seguros" (CDS) que podem agora ser reclamados pelos investidores, se o "default" grego for catalogado de "evento de crédito" pela ISDA, a associação internacional de instituições financeiras que negoceiam com derivados.
 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Será coincidência ou é intencional a mudança de "ocupas" para Movimento de Cidadãos? Olha se a moda pega, ainda nos querem institucionalizar...
http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=457790&&headline=20&visual=9&tm=8& 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Grécia: Eles estão em vias de despedaçar o sector público e de servir em bocados os direitos políticos e sociais da população

"Eles", são os oligarcas da União Europeia (os comissários europeus, os membros do Conselho de governadores do Banco Central Europeu, os chefes de Estado e de governos dos Estados membros da União), os dirigentes do FMI e o governo do primeiro-ministro socialista grego, George Papandreu.

Para alcançarem seus fins, os "homens de negro" da UE e do FMI não foram mesquinhos. Começaram por recusar o desbloqueamento de uma fatia de 12 mil milhões correspondentes a uma parte dos 110 mil milhões de crédito concedido à Grécia em Maio de 2010 . Em seguida acenaram com a promessa de um novo empréstimo, reembolsável em três anos, de um montante de 30 mil milhões de euros (20 mil milhões pela UE e 10 mil milhões pelo FMI). Em contrapartida, exigiram que a Grécia acelerasse a privatização dos seus serviços públicos e pusesse em acção um novo "plano de austeridade" a acrescentar-se aos quatro anteriores. O governo grego tendo aceite os seus diktats, eles (por enquanto pelo menos) decidiram desbloquear a fatia de 12 mil milhões do empréstimo já acordado em 2010 e conceder à Grécia um novo empréstimo de 30 mil milhões de euros em 2012.

por Jean-Jacques Chavigné

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Poderá a Europa escapar à armadilha da dívida? Sim. Eis como

Os mercados financeiros tiveram êxito ao pedirem a imposição de austeridade severa na periferia da eurozona – Grécia, Irlanda e Portugal – para tratar da dívida pública. Os mercados também manifestaram preocupações acerca disso nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Japão, clamando por austeridade. A dívida pública parece operar como uma máscara por trás da qual jaz um sombrio mundo de credores para cuja manutenção economias inteiras são hipotecadas.
Poderá esta máscara ser levantada? Ela o foi em outros países, através do mecanismo de uma auditoria da dívida . Iniciativas como esta aconteceram no Brasil, Equador e alhures a fim de desembaraçar a teia de segredo em torno da dívida e verificar quem emprestou a quem, quando e para que propósito. Tipicamente, há uma expectativa de que pelo menos uma parte da dívida venha a ser considerada "ilegítima" e portanto possa ser repudiada.
O Equador proporciona um exemplo gritante. Em 2007 o presidente Correa constituiu uma comissão de auditoria da dívida , a qual em 2008 informou que uma parte da dívida do país era na verdade ilegítima e havia feito "dano incalculável" ao povo e ao ambiente do Equador. O preço da dívida ilegítima a seguir entrou em colapso nos mercados abertos e o Equador livrou-se dela facilmente.
Apesar das previsões de desastre económico o país registou crescimento económico de 3,7% em 2010 e a previsão é de um crescimento de mais de 5% em 2011. A importância do exemplo equatoriano para os debates actuais na Europa é óbvia.
Eis porque foi lançada em Março uma campanha para uma comissão grega de auditoria com apoio de organizações civis, sindicais e partidos políticos. Um dos seus maiores êxitos foi o documentário Debtocracy , o qual foi assistindo por um milhão de pessoas. Num país que se sente humilhado e deprimido, a campanha apresentou um pouco de esperança.
Num exemplo de solidariedade europeia, várias entidades incluindo Action from Ireland , a Irish Debt and Development Coalition e o sindicato Unite , estão, no dia 4 de Maio, a lançar uma auditoria da dívida na Irlanda. Académicos com experiência e ciências económicas, finanças, direitos e disciplinas relacionadas estão a ser designados para vasculhar as contas públicas a fim de enfrentar várias questões. A quem é a dívida da banca? Quando foi contratada? Especificamente, foi antes ou depois de ter sido emitida a garantia bancária do governo de Setembro de 2008? Quando são os reembolsos da dívida? Quanto já foi reembolsado e a quem?
Enquanto isso a campanha grega está a dar passos para arrancar com as suas próprias investigações. Qual é o estatuto legal da dívida contraída com os bons serviços da Goldman Sachs que apresentou a contratação do empréstimo público como uma transacção de derivativos? Quão legal é a dívida financiar novas compras de armas num dos países mais militarizados do mundo? Acima de tudo, quão legítimo é o empréstimo extraordinário de €110 mil milhões da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional que se afirma ser necessário para "salvar" o país – ao preço de feroz austeridade nas despesas públicas? O empréstimo não seguiu o procedimento normal para a contracção de dívida pública, incluindo a aprovação do parlamento da Grécia.
Estas investigações preliminares estabelecerão factos para promover o pedido de uma auditoria democrática plena e de uma resposta soberana à dívida. O que é necessário em última análise é o pleno acesso aos dados da dívida, o poder de examinar testemunhas e mesmo a capacidade de examinar contas bancárias. Sobre esta base, comissões de auditoria constituídas adequadamente poderiam fazer recomendações críveis sobre a dívida que é ilegítima ou simplesmente insustentável. O estado soberano poderia então efectuar as acções apropriadas, incluindo o repúdio da dívida e a cessação de pagamentos.
A campanha por auditorias da dívida também terá uma importante função educacional a desempenhar através da Europa. Povos nos países centrais, incluindo a Alemanha, parecem ainda não ter percebido que os empréstimos proporcionados pela UE e o FMI não estão a salvar mediterrâneos e celtas irresponsáveis. Eles estão de facto a salvar bancos que se empenharam em empréstimos lucrativos e irresponsáveis no decorrer dos anos 2000. E este será o tema de uma reunião de activistas em Atenas de 6 a 8 de Maio. Participantes de todo o mundo trocarão ideias sobre como enfrentar a dívida pública europeia. Após mais de três anos de crise, movimentos da base estão pelo menos a emergir para se oporem à dominação da dívida, da austeridade e do neoliberalismo por toda a Europa.

por Costas Lapavitsas e Andy Storey [Fonte: www.resistir.info]