quarta-feira, 11 de maio de 2011

Escola da Fontinha, lição nº 1

 
Podes ter de suportar a vida sem emprego, apoio social ou qualquer fonte de rendimento. Podes ter de enfrentar o dia a dia tentando resolver uma angústia: onde deixar os teus filhos para poderes procurar, com um mínimo de dignidade, o que lhes darás de comer. Podes viver numa casa degradada, numa rua de casas degradadas, numa cidade de casas degradadas. Podes ter ao lado da tua casa degradada uma escola que, ao estado, deixou de servir. Podes ter essa escola ocupada pelos arrumadores que a câmara não conseguiu arrumar e por todas as outras figuras que consigas imaginar a cumprir a missão de manterem o local seguro por, pela sua simples presença, afastarem da cabeça de qualquer criança a ideia de invadirem o recinto para, por exemplo, jogar a bola num campo que, entretanto, se vai transformando em pasto de seringas. Podes deixar que a própria escola se degrade e seja vandalizada. Não te preocupes.
No dia em que aparecer um grupo de cidadãos que se voluntarie para, em colaboração contigo e com os teus vizinhos, limpar o local, recuperar o que foi destruído e começar a construir um projecto que ofereça aos teus filhos a possibilidade de aprender música, teatro, jogar a bola, fazer festas, aprender e conviver, nós mandaremos a polícia, expulsaremos os impostores e levantaremos uma parede à porta da tua casa que deixará em definitivo a população do lado de fora dos seus sonhos.
A lição da escola da Fontinha, nasce nessa imagem. Uma imagem tanto mais importante porque nos contem a todos. Emparedados. Estamos todos emparedados. Entre a miséria e a imbecilidade.
Vê aqui as imagens da vergonha

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