Perdoar metade ou até mais da dívida grega dificilmente não será considerado "incumprimento", sobretudo se esse perdão for imposto e não negociado, avisa o representante da banca credora da Grécia.
Charles Dallara, director do Instituto Financeiro Internacional e interlocutor da banca nas negociações que estão em curso com vista à redução da dívida grega, avisou ontem à noite que há limites "para o que pode ser considerado voluntário".
Reagindo à proposta dos governos europeus, que no seguimento da pressão da Alemanha querem que as instituições financeiras privadas aceitem renunciar a 60% dos créditos concedidos à Grécia, Dallara alertou para o método de negociação e para os limites que podem ser aceites pela banca sem desencadear um evento de crédito.
"Qualquer abordagem que não assente em discussões num espírito de colaboração e que envolva iniciativas unilaterais equivalerá a um incumprimento", alertou, citado pela agência Bloomberg.
Nos cálculos dos financiadores internacionais da Grécia – União Europeia e Fundo Monetário Internacional – na ausência de um perdão considerável, a espiral da dívida pública continuará a agravar-se até ao equivalente a 186% do PIB em 2013, baixando para 130% apenas em 2030.
Os parceiros do euro, em especial da Alemanha, têm condicionado a segunda ajuda à Grécia (mais 109 mil milhões de euros) a um envolvimento considerável dos privados. Esse envolvimento começou por ser calculado, em Julho, em 21%. Os bancos perderiam assim um quinto do valor emprestado ao país para garantir condições para que a Grecia possa pagar o restante, evitando um incumprimento total.
Ou os bancos perdem mais, ou Estados terão de abrir mais os cordões à bolsa
A acelerada degradação das condições financeiras gregas tornou, entretanto, estes números obsoletos: ou a ajuda “oficial” é aumentada, ou as perdas dos privados têm de ser alargadas. Berlim quer cortes de 60% assumidos pelos bancos (e respectivos accionistas) para não mexer no valor do novo pacote da ajuda dos Estados em que, no fim da linha, estão os contribuintes – em particular os alemães, dado que é a Alemanha a maior accionista do fundo europeu que ficará encarregue de financiar o essencial do empréstimo à Grécia.
Os Governos querem no entanto evitar que a renegociação da dívida grega seja interpretada como uma imposição, desejando que ela seja considerada como um gesto "voluntário" da banca, para evitar que as agências de "rating" declarem tratar-se de um incumprimento (default) grave.
Esse cenário pode gerar consequências ainda mais dramáticas para o país e abrir um precedente perigoso para Portugal e Irlanda, que poderão ser encarados como os próximos a entrar em "default" e ver os respectivos "ratings" ainda mais esmagados, deixando a banca sem activos com o mínimo de "qualidade" para serem trocados por liquidez no Banco Central Europeu (BCE).
Um incumprimento grego promete também produzir impactos relevantes na banca norte-americana, que vendeu o essencial dos "seguros" (CDS) que podem agora ser reclamados pelos investidores, se o "default" grego for catalogado de "evento de crédito" pela ISDA, a associação internacional de instituições financeiras que negoceiam com derivados.